Sandro Mesquita
Parabéns, Hip Hop!
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Eis que ela faz 50 anos, já é uma senhora. Meio século de serviços prestados à sociedade mundial. Olha só, ela é global! Reconhecida, se não em todo planeta, em quase todo. Sempre desenvolvendo iniciativas, ações e projetos de impacto social, mesmo quando esse termo nem era usado.
Nasceu em 1973, talvez despretensiosa do tanto que iria fazer de transformação mundão afora. Alguns dão conta de ela ter sido a primeira política pública para juventude. Neste caso, dentro de uma realidade da sociedade norte-americana, violenta e violentada pelo racismo e brutalidade policial, e se reconstruindo ainda no pós-guerra. Mesmo em meio a isso, ela cresceu e se desenvolveu. Talvez fosse preciso presenciar algumas situações, talvez surgisse pra combater certas situações.
Ela percebeu na sua adolescência que teria que se organizar. Reuniu alguns elementos das ruas e das culturas africanas e urbanas e construiu possibilidades, pontes. Foi dançarina! Desafiou a lei da gravidade em saltos e giros que ao longo dos anos vêm se aprimorando, aperfeiçoando com corpos negros se contorcendo em uma disputa do melhor movimento. Estilo diferenciado de dançar que foi consagrado sendo considerado esporte olímpico. Mas até hoje ela dança!
Ela é uma artista! Vive espalhando cores e formas nas paredes de vagões de trens, nos muros, prédios e casas. Por isso também já foi considerada subversiva. Hoje conquistou espaços nos grandes centros e galerias de artes e dá o tom mais alegre em algumas cidades e espaços tão cinzas.
É sonora, gosta de músicas! Inovação é a palavra que define essa característica/elemento. Ouvindo um vinil, criou uma técnica ao arranhar o disco e isso mudou a música mundial e a realidade de milhares de jovens.
É poeta protestante! É crítica, discursiva, não se molda aos padrões. Cria tendências, gera empregos, gera renda, organiza a cadeia produtiva da economia da cultura periférica. Ela cresceu!
É conexão! E mesmo quando ela cresceu sem internet, sua fala, seus escritos, sua manifestação rompeu as fronteiras e chegou em vários lugares. Hoje, com toda a tecnologia, ela continua conectando, países, cidades, favelas, periferias, comunidades, guetos e, sobretudo, pessoas.
Ela é política. Racializada, aborda diversos temas transversais que dizem respeito à sociedade e exemplifica, aponta, propõe, sugere, constrói e contribui para formação de políticas públicas. Ela é sábia! Se tivéssemos dados estatísticos mundiais, quantos jovens devem ter sido salvos ou resgatados por ela ao longo de cinco décadas? Quantas possibilidades e oportunidades foram criadas por ela?
Mas, ao mesmo tempo que construiu um legado, hoje ela precisa de cuidados. Ainda precisa ser compreendida como uma ferramenta real de transformação, como um movimento que liberta. Econômico, organizado e com a capacidade de entregar muito ainda com as renovações geracionais, como em uma competição 4x4 na passagem de bastão.
É ela! A Cultura Hip Hop, que chega robusta aos 50 anos, colhendo bons frutos na estrada por onde tem passado, onde tem encontrado disposição, vontade e sede de mudanças. Entenda ela. Por inteiro ou por partes, mas não deixe de apreciá-la. Tire toda armadura do pré-conceito e olhar soberbo. Tente sentir a força que ela traz e a transformação que faz.
Ela me transformou, me revolucionou, me deu entendimento e direção acerca de várias situações e continua fazendo isso com várias pessoas que conseguem captar sua essência, seu modus operandi. Parabéns, Cultura Hip Hop!
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